segunda-feira, 29 de setembro de 2014

The Benedictine Monastery of Le Barroux


New DVD from the Benedictine Monastery of Le Barroux  


It was with great pleasure that I received a review copy of the new DVD from the Monastery of Le Barroux in France -- a Benedictine monastery that uses the liturgical books of the usus antiquior and which is tied to the justly reknowned Dom Gerard Calvet.

The DVD is titled Veilleurs dans la Nuit: Une Journee Monastique a l'Abbaye Sainte-Madeleine du Barroux (Watchers in the Night: A Monastic Day at the Abbey of Sainte-Madeleine of Barroux).

Not since Into Great Silence, the DVD which shows the life of La Grande Chartreuseof the Carthusians, have I seen such an excellent DVD on the monastic life, complete with beautiful cinematography.

The DVD itself includes a number of views of the various liturgical offices of the monastery, the day to day labora which is such a fundamental aspect of the Rule of St. Benedict, and Pontifical Mass of the Abbot of Le Barroux, Dom Louis-Marie.

The native language of the DVD is French, though there are subtitles available in English, German, Spanish and Italian. Of course, the images which the DVD brings to you are more than worthwhile on their own -- not to mention the Latin chants and liturgies shown therein.

The film runs 52 minutes in length, and the DVD is in PAL format -- but this will play on many DVD players today, and most certainly DVD drives in computers.

To order, please see this form for directions.

I leave you with a number of images from this splendid DVD.



(Ora)






(The tonsure)


(Labora)






(Pontifical Mass with the Abbot)





(The pontifical vestment sets at Le Barroux have always struck me as an example of some of the better modern vestment work that came out of the Liturgical Movement, employing rich and textured embroideries, combined with noble materials)






(The cloister)


UPDATE



By the way, if you want to read more about this, and see some more screen captures, do browse on over to WDTPRS where Fr. Zuhlsdorf provided a comprehensive review of this title back on May 9th.

Between the two reviews, I think you can agree, it's an excellent product and worth investing in. Do yourself a favour and purchase a copy.

Regra de S. Bento: Da humildade


CAPÍTULO 7 - Da humildadeIrmãos, a Escritura divina nos clama dizendo: "Todo aquele que se exalta será humilhado e todo aquele que se humilha será exaltado". Indica-nos com isso que toda elevação é um gênero da soberba, da qual o Profeta mostra precaver-se quando diz: "Senhor, o meu coração não se exaltou, nem foram altivos meus olhos; não andei nas grandezas, nem em maravilhas acima de mim. Mas, que seria de mim se não me tivesse feito humilde, se tivesse exaltado minha alma? Como aquele que é desmamado de sua mãe, assim retribuirias a minha alma.
Se, portanto, irmãos, queremos atingir o cume da suma humildade e se queremos chegar rapidamente àquela exaltação celeste para a qual se sobe pela humildade da vida presente, deve ser erguida, pela ascensão de nossos atos, aquela escada que apareceu em sonho a Jacó, na qual lhe eram mostrados anjos que subiam e desciam. Essa descida e subida, sem dúvida, outra coisa não significa, para nós, senão que pela exaltação se desce e pela humildade se sobe. Essa escada ereta é a nossa vida no mundo, a qual é elevada ao céu pelo Senhor, se nosso coração se humilha. Quanto aos lados da escada, dizemos que são o nosso corpo e alma, e nesses lados a vocação divina inseriu, para serem galgados, os diversos graus da humildade e da disciplina.
Assim, o primeiro grau da humildade consiste em que, pondo sempre o monge diante dos olhos o temor de Deus, evite, absolutamente, qualquer esquecimento, e esteja, ao contrário, sempre lembrado de tudo o que Deus ordenou, revolva sempre, no espírito, não só que o inferno queima, por causa de seus pecados, os que desprezam a Deus, mas também que a vida eterna está preparada para os que temem a Deus; e, defendendo-se a todo tempo dos pecados e vícios, isto é, dos pecados do pensamento, da língua, das mãos, dos pés e da vontade própria, como também dos desejos da carne, considere-se o homem visto do céu, a todo momento, por Deus, e suas ações vistas em toda parte pelo olhar da divindade e anunciadas a todo instante pelos anjos. Mostra-nos isso o Profeta quando afirma estar Deus sempre presente aos nossos pensamentos: "Deus que perscruta os corações e os rins". E também: "Deus conhece os pensamentos dos homens". E ainda: "De longe percebestes os meus pensamentos" e "o pensamento do homem vos será confessado". Portanto, para que esteja vigilante quanto aos seus pensamentos maus, diga sempre, em seu coração, o irmão empenhado em seu próprio bem: "se me preservar da minha iniqüidade, serei, então, imaculado diante d’Ele".
Assim, é-nos proibido fazer a própria vontade, visto que nos diz a Escritura: "Afasta-te das tuas próprias vontades". E, também, porque rogamos a Deus na oração que se faça em nós a sua vontade.
Aprendemos, pois, com razão, a não fazer a própria vontade, enquanto nos acautelamos com aquilo que diz a Escritura: "Há caminhos considerados retos pelos homens cujo fim mergulha até o fundo do inferno", e enquanto, também, nos apavoramos com o que foi dito dos negligentes: "Corromperam-se e tornaram-se abomináveis nos seus prazeres". Por isso, quando nos achamos diante dos desejos da carne, creiamos que Deus está sempre presente junto a nós, pois disse o Profeta ao Senhor: "Diante de vós está todo o meu desejo".
Devemos, portanto, acautelar-nos contra o mau desejo, porque a morte foi colocada junto à porta do prazer. Sobre isso a Escritura preceitua dizendo: "Não andes atrás de tuas concupiscências". Logo, se os olhos do Senhor "observam os bons e os maus", e "o Senhor sempre olha do céu os filhos dos homens para ver se há algum inteligente ou que procura a Deus" e se, pelos anjos que nos foram designados, todas as coisas que fazemos são, cotidianamente, dia e noite, anunciadas ao Senhor, devemos ter cuidado, irmãos, a toda hora, como diz o Profeta no salmo, para que não aconteça que Deus nos veja no momento em que caímos no mal, tornando-nos inúteis, e para que, vindo a poupar-nos nessa ocasião porque é Bom e espera sempre que nos tornemos melhores, não venha a dizer-nos no futuro: "Fizeste isto e calei-me".
REGRA DE S.BENTO

La belleza de la Misa tradicional según Leopoldo Marechal.


Más allá de los problemas doctrinales que entrañan los textos de la reforma litúrgica y el Novus Ordo de la Misa, el mismo espíritu que empapó los textos de las rúbricas y las oraciaciones con la nueva teología, ha inficionado el arte que barnizaba toda la arquitectura de la liturgia, despojándola de la belleza y profundidad teológica objetiva que tenía. Fray Mario Petit de Murat O.P. dirá que

“la decadencia del arte es un síntoma, nos muestra el estado deplorable en que está esta Virgen y Madre que es la Iglesia. El arte es confesional; el arte de la Iglesia es confesión del estado en que se encuentra su parte humana.
Es necesario que nos reeduquemos para que el arte cristiano vuelva a la dignidad, a la pureza que alcanzó en otros tiempos.”

Y hoy la liturgia ha quedado despojada de su santa belleza atractiva. Muchos santos y hombres de profunda fe, a través de la historia, han reconocido el atractivo que tenía la venerable y antigua liturgia, digna de la santidad de su espíritu.

En Adán Buenosayres, Leopoldo Marechal describe una Misa cantada, una misa tradicional. El relato del personaje que entra a un monasterio solitario, nos trae a la memoria el relato del poeta Paul Claudel de suconversión, al entrar a la catedral de Notre Damme, el cual, es llevado por una curiosidad artística, y maravillándose por la ceremonia y la música del coro, se desarma todo su sistema de pensamiento ateo. Aquí el fragmento de Marechal:

“Por senderos montañeses y huellas de cabras has ascendido hasta el viejo monasterio levantado en plena soledad. Una razón de arte, y no un motivo piadoso, te ha guiado en aquel ascenso matutino. Y al entrar en la capilla desierta se deslumbran tus ojos: frescos y tablas de colores paradisíacos, bajorrelieves adorables, maderas trabajadas, bronces y cristalerías gozan allá la inmarcesible primavera de su hermosura. Y estás preguntándote ya quién ha reunido, y para quién, tanta belleza en aquel desierto rincón de la montaña, cuando una fila de monjes negros aparece junto al altar y se ubica sin ruido en los tallados asientos del coro. Y te asustas, porque sólo te ha guiado una razón de arte. No bien el Celebrante inicia la aspersión del agua, los del coro entonan el Asperges. La casulla roja, con su cruz bordada en oro, resplandece luego sobre el alba purísima que viste aquel mudo sacrificador: en su antebrazo izquierdo cuelga ya el manípulo rojo sangre como la casulla. Y cuando el Celebrante sube las gradas del altar lleno de florecillas rojas, los monjes de pie cantan el Introito. A continuación los Kiries desolados, el Gloria triunfante, la severa Epístola, el Evangelio de amor y el fogoso Credo resuenan en la nave solitaria. Y escuchas desde tu escondite, como un ladrón sorprendido, porque sólo te ha guiado una razón de arte. Ofrecidos ya el pan y el vino, una crencha de humo brota en el incensario de plata; y el Celebrante inciensa las ofrendas, el Crucifijo, las dos alas del altar; devolviendo el incensario al acólito, recibe a su vez el incienso y lo agradece con una reverencia; en seguida el acólito se dirige a los monjes y los inciensa, uno por uno. Y sigues atentamente aquella estudiada multiplicidad de gestos cuyo significado no alcanzas; y, no sin inquietud, piensas ya que tan solemne liturgia se desarrolla sin espectador alguno y en un desierto rincón de la montaña, tal una sublime comedia que actores locos representasen en un teatro vacío. Pero de súbito, cuando sobre la cabeza del Celebrante se yergue la Forma blanca, te parece adivinar allí una presencia invisible que llena todo el ámbito y en silencio recibe aquel tributo de adoración, la presencia de un Espectador inmutable, sin principio ni fin, mucho más real que aquellos actores transitivos y aquel teatro perecedero. Y un terror divino humedece tu piel, y tiemblas en tu escondite de ladrón; porque sólo te ha guiado una razón de arte”.

Leopoldo MarechalAdán Buenosayres (1948), Libro V, parte I.-

http://statveritasblog.blogspot.pt/2014/06/la-belleza-de-la-misa-tradicional-segun.html

domingo, 28 de setembro de 2014

Bishop Dominique Rey celebrate pontifical Mass


The monastery hosted the Sacra Liturgia summer school from 5-20 July. More than 50 people from over 10 different countries participated. The monastery was privileged to host Archbishop Thomas Gullickson, Apostolic Nuncio to the Ukraine, for some days at the beginning of the summer school. His Excellency pontificated at Sunday vespers, lectured and received tuition. His own blog post about his visit can be read here.

The monastic offices and Holy Mass were sung each day, and pilgrimages were made to the relics of St Mary Magdalen at St Maximin la Sainte-Baume, to the chapel of Notre Dame de Miremer, to the Abbey of Le Thoronet and to the relics of St Roseline of Villeneuve.

On Friday 18th July Bishop Dominique Rey came to celebrate pontifical Mass at the throne with the assistance of local clergy and participants in the summer school. At a dinner following the Mass Bishop Rey expressed the hope that the summer school will become a regular feature of the monastery's apostolate.

Further information about future Sacra Liturgia initiatives may be found here as they are announced. 
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I Vespers of Sunday which opened the summer school.
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Pontifical Vespers at the Faldstool celebrated by Archbishop Gullickson.

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The Solemn Votive Requiem Mass
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The Absolution following the Solemn Votive Requiem Mass
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Fr Gabriel Diaz Patri who gave two lectures.
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Solemn Lauds for the feast of St Benedict
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Solemn Mass for the feast of St Benedict
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Venerating the relic of St Benedict following solemn Mass
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Solemn II Vespers of St Benedict
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Solemn votive Mass of St Mary Magdalen in the Basilica at St Maximin la Sainte-Baume
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Bishop Rey is welcomed liturgically by the Curé.
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The bishop and his assistants at the throne
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 http://www.msb-lgf.org/news

 

Il sacerdozio di San Pio da Pietrelcina - Conferenza di P. Stefano M. Manelli

sábado, 27 de setembro de 2014

Homilia do Cardeal Angelo Amato por ocasião da beatificação de Álvaro del Portillo



1. «Pastor segundo o coração de Cristo, zeloso ministro da Igreja[1]» . Este é o retrato que o Papa Franci-sco oferece do Bem-aventurado Álvaro del Portillo, bom pastor, que, como Jesus, conhece e ama as suas ovelhas, conduz ao redil as que se perderam, enfaixa as que estão machucadas e oferece a vida por elas[2].
O novo Bem-aventurado foi chamado desde jovem a seguir Cristo, para tornar-se depois um diligente ministro da Igreja e proclamar em todo o mundo a gloriosa riqueza do seu mistério salvifico: «É ele que nós anunciamos, instruindo cada um, ensinando cada um com sabedoria, a fim de podermos apresentar cada um perfeito em Cristo. Para isso, eu me afadigo e luto, na medida em que atua em mim a sua força[3]» . E realizou este anúncio de Cristo Salvador com absoluta fidelidade à cruz e, ao mesmo tempo, com uma alegria evangélica exemplar nas dificuldades. Por isso, a Liturgia aplica-lhe hoje as palavras do Apóstolo: «Alegro-me nos sofrimentos que tenho suportado por vós, e completo, na minha carne, o que falta às tribulações de Cristo em favor do seu Corpo que é a Igreja[4]» .
A serena felicidade diante da dor e do sofrimento é uma característica dos Santos. Além disso, as bem-aventuranças – também aquelas mais árduas, como as perseguições – não são mais que um hino à alegria.
2. São muitas as virtudes – como a fé, a esperança e a caridade – que o Bem-aventurado Álvaro viveu de modo heroico. Praticou esses hábitos virtuosos à luz das bem-aventuranças da mansidão, da misericórdia, da pureza de coração. Os testemunhos são unânimes. Além de destacar-se pela total sintonia espiritual e apostólica com o santo Fundador, distinguiu-se também como uma figura de grande humanidade.
As testemunhas afirmam que, desde criança, Álvaro era «um menino de caráter muito alegre e muito estudioso, que nunca deu problemas»; «era carinhoso, simples, alegre, responsável, bom...[5]» .
Herdou da sua mãe, dona Clementina, uma serenidade proverbial, a delicadeza, o sorriso, a compreensão, o falar bem dos outros e a ponderação ao julgar. Era um autêntico cavalheiro. Não era loquaz. Sua formação como engenheiro conferiu-lhe rigor mental, concisão e precisão para ir imediatamente ao núcleo dos problemas e resolvê-los. Inspirava respeito e admiração.
3. Sua delicadeza no relacionamento estava unida a uma riqueza espiritual excepcional, na qual se destacava a graça da unidade entre a vida interior e o afã apostólico infatigável. O escritor Salvador Bernal afirma que transformou em poesia a prosa humilde do trabalho diário.
Era um exemplo vivo de fidelidade ao Evangelho, à Igreja, ao Magistério do Papa. Sempre que acudia à basílica de São Pedro em Roma, costumava recitar o Credo diante do túmulo do Apóstolo e uma Salve-Rainha diante da imagem de Santa Maria,Mater Ecclesiae.
Fugia de todo personalismo, porque transmitia a verdade do Evangelho e a integridade da tradição, não as suas próprias opiniões. A piedade eucarística, a devoção mariana e a veneração pelos Santos nutriam a sua vida espiritual. Mantinha viva a presença de Deus com frequentes jaculatórias e orações vocais. Entre as mais habituais estavam: Cor Iesu Sacratissimum et Misericors, dona nobis pacem!, e Cor Mariae Dulcissimum, iter para tutum!; assim como a invocação mariana: Santa Maria, Esperança nossa, Escrava do Senhor, Sede da Sabedoria.
4. Um momento decisivo da sua vida foi a chamada ao Opus Dei. Aos 21 (vinte e um) anos, em 1935 (mil novecentos e trinta e cinco), depois de encontrar São Josemaria Escrivá de Balaguer – que então era um jovem sacerdote de 33 (trinta e três) anos –, respondeu generosamente à chamada do Senhor à santidade e ao apostolado.
Tinha um profundo sentido de comunhão filial, afetiva e efetiva com o Santo Padre. Acolhia o seu magistério com gratidão e o dava a conhecer a todos os fiéis do Opus Dei. Nos últimos anos da sua vida, beijava frequentemente o anel de Prelado que lhe tinha presenteado o Papa, para reafirmar a sua plena adesão aos desejos do Romano Pontífice. Particularmente, apoiava as suas petições de oração e jejum pela paz, pela unidade dos cristãos e pela evangelização da Europa.
Destacava-se pela prudência e retidão ao avaliar os acontecimentos e as pessoas; pela justiça para respeitar a honra e a liberdade dos outros; pela fortaleza para resistir às contrariedades físicas ou morais; pela temperança, vivida como sobriedade, mortificação interior e exterior. O Bem-aventurado Álvaro transmitia o bom odor de Cristo – bonus odor Christi[6]– , que é o aroma da autêntica santidade.
5. No entanto, há uma virtude que Monsenhor Álvaro del Portillo viveu de modo especialmente extra-ordinário, considerando-a um instrumento indispensável para a santidade e o apostolado: a virtude da humildade, que é imitação e identificação com Cristo, manso e humilde de coração[7]. Amava a vida oculta de Jesus e não desprezava os gestos simples de devoção popular, como, por exemplo, subir de joelhos a Scala Santa em Roma. A um fiel da Prelazia, que tinha visitado esse mesmo lugar, mas que tinha subido a pé a Scala Santa, porque – assim o comentou – se considerava um cristão maduro e bem formado, o Bem-aventurado Álvaro respondeu-lhe com um sorriso, e acrescentou que ele a tinha subido de joelhos, ainda que o ambiente estivesse cheio de pessoas e com pouca ventilação[8]. Foi uma grande lição de simplicidade e de piedade.
Monsenhor del Portillo estava, de fato, “contagiado” pelo espírito de Nosso Senhor Jesus Cristo, que não veio para ser servido, mas para servir[9]. Por isso, rezava e meditava com frequência o hino eucarístico Adoro Te devote, latens deitas. Da mesma maneira, considerava a vida de Maria, a humilde escrava do Senhor. Às vezes recordava uma frase de Cervantes, das Novelas Exemplares: «sem humildade, não há virtude que o seja[10]» . E frequentemente recitava uma jaculatória comum entre os fiéis da Obra: «Cor contritum et humiliatum, Deus, non despicies[11]» ; não desprezarás, ó Deus, um coração contrito e humilhado.
Para ele, como para Santo Agostinho, a humildade era o lar da caridade[12]. Repetia um conselho que o Fundador do Opus Dei costumava dar, citando umas palavras de São José de Calasanz: «Se queres ser santo, sê humilde; se queres ser mais santo, sê mais humilde; se queres ser muito santo, sê muito humilde[13]» . Tampouco esquecia que um burro foi o trono de Jesus ao entrar em Jerusalém. Os seus companheiros de estudos, além de destacar a sua extraordinária inteligência, recordam a sua simplicidade, a inocência serena de quem não se considera melhor que os outros. Pensava que o seu pior inimigo era a soberba. Uma testemunha assegura que era “a humildade em pessoa[14]” .
A sua humildade não era áspera, chamativa, exasperada; mas carinhosa, alegre. Sua alegria nascia da convicção do seu escasso valor pessoal. No início de 1994, o último ano da sua vida na terra, em uma reunião com as suas filhas, disse: «digo-o a vós, e digo-o a mim mesmo. Temos que lutar toda a vida para chegar a ser humildes. Temos a escola maravilhosa da humildade do Senhor, da Santíssima Virgem e de São José. Vamos aprender. Vamos lutar contra o próprio eu, que está constantemente levantando-se como uma víbora, para morder. Mas estamos seguros se estamos perto de Jesus, que é da linhagem de Maria, e é quem esmagará a cabeça da serpente[15]» .
Para Dom Álvaro, a humildade era «a chave que abre a porta para entrar na casa da santidade», en-quanto que a soberba constituía o maior obstáculo para ver e amar a Deus. Dizia: «a humildade arranca de nós a máscara de papelão, ridícula, que levam as pessoas presunçosas, confiadas em si mesmas[16]» . A humildade é o reconhecimento das nossas limitações, mas também da nossa dignidade de filhos de Deus. O melhor elogio da sua humildade foi expressado por uma mulher do Opus Dei, depois do faleci-mento do Fundador: «quem morreu foi Dom Álvaro, porque o nosso Padre continua vivo no seu sucessor[17]» .
Um cardeal testemunha que, quando leu sobre a humildade na Regra de São Bento ou nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, parecia-lhe contemplar um ideal altíssimo, mas inalcançável para o ser humano. Mas, quando conheceu e conviveu com o Bem-aventurado Álvaro, entendeu que era possível viver a humildade de uma maneira total.
6. Podem-se aplicar ao Bem-aventurado as palavras que o Cardeal Ratzinger pronunciou em 2002, por ocasião da canonização do Fundador do Opus Dei. Falando da virtude heroica, o então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé disse: «Virtude heroica não significa exatamente que uma pessoa levou a cabo grandes coisas por si mesmo, mas que na sua vida aparecem realidades que não foram realizadas por ele, porque ele se mostrou transparente e disponível para que Deus atuasse [...]. Isso é a santidade[18]» .
Esta é a mensagem que nos entrega hoje o Bem-aventurado Álvaro del Portillo, «pastor segundo o coração de Jesus, zeloso ministro da Igreja[19]» . Convida-nos a sermos santos como ele, vivendo uma santidade amável, misericordiosa, afável, mansa e humilde.
A Igreja e o mundo necessitam do grande espetáculo da santidade, para purificar, com o seu aroma agradável, a podridão dos muitos vícios ostentados com arrogante insistência.
Agora, mais do que nunca, necessitamos de uma ecologia da santidade, para combater a contaminação da imoralidade e da corrupção. Os santos convidam-nos a introduzir no seio da Igreja e da sociedade o ar puro da graça de Deus, que renova a face da terra.
Que Maria, Auxílio dos Cristãos e Mãe dos Santos, nos ajude e nos proteja.
Bem-aventurado Álvaro del Portillo, rogai por nós.
Amém.

[1]Francisco, Breve Apostólico de Beatificação do Venerável Servo de Deus Álvaro del Portillo, Bispo, Prelado do Opus Dei, 27-IX-2014.
[2] Cf. Ez 34, 11-16; Jn 10,11-16.
[3] Col 1, 28-29.
[4] Ibid., 24.
[5] Positio super vita, virtutibus et fama sanctitatis, 2010, vol. I, p. 27.
[6] 2 Cor 2,15.
[7] Mt 11, 29.
[8] Cf. Positio super vita, virtutibus et fama sanctitatis, 2010, vol. I, p. 662.
[9]Mt 20, 28; Mc 10, 45.
[10] Miguel de Cervantes, Novelas Exemplares: “A conversa dos cachorros”. Cf. Positio super vita, virtutibus et fama sanctitatis, 2010, vol. I, p. 663.
[11]Sal 51 [50], 19.
[12] Santo Agostinho, De sancta virginitate, 51.
[13]São Josemaria Escrivá, palavras recolhidas em A. Vázquez de Prada, El Fundador del Opus Dei, vol. I, Rialp, Madrid 1997, p. 18.
[14] Positio super vita, virtutibus et fama sanctitatis, 2010, vol. I, p. 668.
[15]Ibid., p. 675.
[16]Ibid.
[17]Ibid., p. 705.
[18]Ibid., p. 908.
[19]Francisco, Breve Apostólico de Beatificação do Venerável Servo de Deus Álvaro del Portillo, Bispo, Prelado do Opus Dei, 27-IX-2014.

Biografia do Beato Álvaro del Portillo


Filho de Clementina Diez de Solano (mexicana) e de Ramón del Portillo y Pardo (espanhol), Álvaro del Portillo nasceu em Madrid a 11 de março de 1914. Era o terceiro de oito irmãos.

Depois de frequentar os estudos secundários no Colégio El Pilar (Madrid), frequentou a Escola de Engenharia Civil, Canais e Portos, e terminou o curso em 1941. Em seguida, trabalhou em vários organismos públicos com jurisdição no sector hidrográfico. Ao mesmo tempo, estudou Filosofia e Letras (Secção de História) e doutorou-se em 1944 com a tese
Descobrimentos e explorações no litoral da Califórnia.

Em 1935 incorporou-se no Opus Dei, instituição da Igreja Católica fundada sete anos antes por S. Josemaria Escrivá. Ele recebeu diretamente do fundador a formação e o espírito próprios daquele novo caminho na Igreja. Desenvolveu um amplo trabalho de evangelização entre os colegas de estudo e de trabalho, e desde 1939 fez várias viagens de carácter apostólico a diferentes cidades de Espanha.

No dia 25 de junho de 1944 foi ordenado sacerdote pelo Bispo de Madrid, D. Leopoldo Eijo y Garay, juntamente com José Maria Hernández Garnica e José Luis Múzquiz: são os três primeiros sacerdotes do Opus Dei, depois do fundador.

Em 1946 mudou-se para Roma, poucos meses antes de S. Josemaria, com quem viveu também nos anos seguintes. Trata-se de um período crucial para o Opus Dei, que, então, recebeu as primeiras aprovações jurídicas da Santa Sé. Para D. Álvaro del Portillo começou também uma época decisiva, em que, entre outras coisas, realizou − com a sua atividade intelectual perto de S. Josemaria e com o seu trabalho na Santa Sé − uma profunda reflexão sobre o papel e a responsabilidade dos fiéis leigos na missão da Igreja, através do trabalho profissional e das relações sociais e familiares. " Num hospital − escreve anos mais tarde para exemplificar esta realidade − a Igreja não está só presente pelo capelão: também atua através dos fiéis que, como médicos ou enfermeiros, procuram prestar um bom serviço profissional e uma delicada atenção humana aos doentes; num bairro, o templo será sempre um ponto de referência fundamental, mas a única maneira de chegar aos que não o frequentam será através de outras famílias".

Entre 1947 e 1950 incentivou a expansão apostólica do Opus Dei em Roma, Milão, Nápoles, Palermo e outras cidades italianas. Promoveu atividades de formação cristã e atendeu sacerdotalmente inúmeras pessoas. Sinal do trabalho marcante que fez em Itália são as várias ruas e praças que lhe foram dedicadas em diversas localidades do país.

A 29 de junho de 1948, o fundador do Opus Dei em Roma erigiu o Colégio Romano da Santa Cruz, centro internacional de formação do qual Álvaro del Portillo foi o primeiro reitor e onde ensinou Teologia moral (1948-1953). Em 1948 doutorou-se em Direito Canónico na Universidade Pontifícia de S. Tomás.

Durante os seus anos em Roma, os vários Papas, de Pio XII a João Paulo II, chamaram-no para desempenhar numerosos encargos como membro ou consultor de 13 organismos da Santa Sé. Participou ativamente no Concílio Vaticano II. João XXIII nomeou-o consultor da Sagrada Congregação do Concílio (1959-66). Nas fases anteriores ao Concílio Vaticano II, foi presidente da Comissão para o Laicado. Já durante o Concílio (1962-65) foi secretário da Comissão sobre a Disciplina do Clero e do Povo Cristão. Após este evento eclesial, Paulo VI nomeou-o consultor da Comissão pós-conciliar dos Bispos e Governo das Dioceses (1966). Foi também, durante muitos anos, consultor da Congregação para a Doutrina da Fé.

A vida de Álvaro del Portillo está estreitamente ligada ao fundador do Opus Dei. Permaneceu sempre ao seu lado até o momento da morte em 26 de junho de 1975, colaborando com S. Josemaria nas tarefas de evangelização e de governo pastoral. Com ele foi a numerosos países para iniciar e orientar os diversos apostolados. "Vendo a sua presença amável e discreta ao lado da figura dinâmica de Mons. Escrivá, vinha-me ao pensamento a modéstia de S. José ", escreverá depois da sua morte um agostiniano irlandês, o Padre John O'Connor.

A 15 de setembro de 1975, no congresso geral convocado após a morte do fundador, Álvaro del Portillo foi eleito para lhe suceder à frente do Opus Dei. Em 28 de novembro de 1982, quando o Beato João Paulo II erigiu o Opus Dei como prelatura pessoal, nomeou-o Prelado da nova prelatura. Oito anos depois, a 7 de dezembro de 1990, nomeou-o bispo e, em 6 de janeiro de 1991, conferiu-lhe a ordenação episcopal na Basílica de São Pedro.

Ao longo dos anos em que esteve à frente do Opus Dei, D. Álvarodel Portillo promoveu o início da atividade da Prelatura em 20 novos países. Nas suas viagens pastorais, que o levaram aos cinco continentes, falou a milhares de pessoas do amor à Igreja e ao Papa, e anunciou com persuasiva simpatia a mensagem cristã de S. Josemaria sobre a santidade na vida corrente. Em Portugal esteve 12 vezes acompanhando S. Josemaria e 8 vezes sendo já Prelado do Opus Dei. Em todas as viagens visitou o Santuário de Nossa Senhora de Fátima.

Como Prelado do Opus Dei, D. Álvaro del Portillo estimulou o início de numerosas iniciativas sociais e educativas. O Centre Hospitalier Monkole (Kinshasa, Congo), o Center for Technology and Enterprise (CITE, em Cebú, Filipinas) e da Niger Foundation (Enugu, Nigéria) são exemplos de instituições de desenvolvimento social realizados por fieis do Opus Dei, com outras pessoas, sob o impulso direto de D. Álvaro del Portillo.

Também a Universidade Pontifícia da Santa Cruz (desde 1985) e o seminário internacional Sedes Sapientiae (desde 1990), ambos em Roma, assim como o Colégio Eclesiástico Internacional Bidasoa (Pamplona, Espanha), formaram para as dioceses milhares de candidatos ao sacerdócio enviados por bispos de todo o mundo. São um sinal da preocupação de D. Álvaro del Portillo pelo papel do sacerdote no mundo atual, tema a que dedicou grande parte das suas energias, como ficou bem patente nos anos do Concílio Vaticano II. "O sacerdócio não é uma carreira, escreveu em 1986, mas uma entrega generosa, plena, sem cálculos nem limitações, para ser semeadores de paz e alegria no mundo, e para abrir as portas do Céu a quem beneficia desse serviço e ministério".

D. Álvaro del Portillo faleceu em Roma na madrugada de 23 de março de 1994, poucas horas depois de regressar de uma peregrinação à Terra Santa. Na véspera, a 22 de março, celebrou a sua última Missa na Igreja do Cenáculo em Jerusalém.

Álvaro del Portillo é autor de publicações sobre questões teológicas, canónicas e pastorais: Fiéis e leigos na Igreja (1969), Escritos sobre o sacerdócio (1970) e numerosos textos dispersos, a maioria deles postumamente recolhidos no volume de Rendere amabile la Verità. Raccolta di scritti di Mons. Álvaro del Portillo, publicado em 1995 pela Libreria Editrice Vaticana. Em 1992, publicou-se o volumeIntervista sul Fondatore dell'Opus Dei, resultado das suas conversas com o jornalista italiano Cesare Cavalleri, sobre a figura de S. Josemaria Escrivá, que foi traduzido em várias línguas.

Depois da sua morte, em 1994, milhares de pessoas têm testemunhado por escrito as suas recordações de D. Álvaro del Portillo: a bondade, o calor do sorriso, a humildade, a audácia sobrenatural, a paz interior que a sua palavra comunicava.

Para mais informação: www.opusdei.org

VIDEO COM BREVE BIOGRAFIA DO BEATO ÁLVARO DEL PORTILLO

VIRTUDES DO BEATO ÁLVARO DEL PORTILLO



Biógrafo de D. Álvaro del Portillo realça as virtudes do futuro Beato

       
 
O professor da Universidade Seton Hall e biógrafo de D. Álvaro del Portillo, John Coverdale, referiu que a próxima beatificação daquele que foi o primeiro Prelado do Opus Dei “conduz à fama um homem de profunda fé e de amor a Deus”.

Numa entrevista concedida a ACI Prensa, J. Coverdale disse que Álvaro del Portillo “era um homem que se aproximava de todo o tipo de pessoas. Ele era capaz de fazer amizade com os porteiros no Vaticano, que se aproximavam a cumprimentá-lo, interessava-se por todos”. E acrescentou que “é raro haver muitas pessoas que se interessem pelos porteiros”.

J. Coverdale é professor de Direito fiscal e membro do Opus Dei desde 1957, é autor de uma obra sobre a Prelatura do Opus Dei e agora está a trabalhar numa biografia de Álvaro del Portillo.

A beatificação de D. Álvaro del Portillo será em Madrid (Espanha), sua terra natal, a 27 de Setembro deste ano e será presidida pelo Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, Cardeal Angelo Amato.

Coverdale afirmou que o Prelado “tinha a confiança de que o Opus Dei era parte do plano de Deus para a Igreja, e que ele fora chamado a colocar toda a sua vida ao seu serviço” e foi “exatamente o que fez, trabalhou muito duro, inclusivamente até aos últimos dias da sua vida, apesar de ser já avançado em idade e estar esgotado”.

Afirmou que a personalidade de S. Josemaria Escrivá era efusiva e cheia de vigor, muito diferente da de “D. Álvaro que foi uma pessoa mais tranquila”, contudo, durante a sua vida mostrou uma “total disponibilidade” para a Igreja, servindo em várias congregações do Vaticano e comissões. Inclusivamente, durante o Concílio Vaticano II, trabalhou como secretário, perito e excelente teólogo.

O biógrafo que trabalhou e estudou na sede do Opus Dei durante cinco ou seis anos, na década de 1960, junto de S. Josemaria Escrivá, afirmou como o impressionava a dedicação que D. Álvaro dava à oração. “Não só celebrava Missa todos os dias e recitava o breviário e o rosário, mas também fazia pelo menos uma hora diária de oração mental. Muitas vezes, se viajava de carro, rezava várias dezenas do rosário”.
“Eram inúmeras as ocasiões em que se via simplesmente que se embrenhava na oração, como forma de resolver os problemas com a graça de Deus”, acrescentou J. Coverdale.

Destacou também que “ele não fazia nada para sobressair ou chamar a atenção das pessoas. Estava ali para secundar o Fundador e para o ajudar”. Era impressionante o “seu enorme talento”, mas dava a sua opinião apenas “quando era necessário”.

Descreveu como “extraordinária” a importância da sua presença no Opus Dei, tanto pela sua ajuda como por ser o “mais próximo colaborador” do fundador logo depois de ter pedido a admissão na Obra em 1935.

Quando S. Josemaria faleceu, o Prelado ajudou a manter a continuidade do espírito e da prática do Opus Dei; trabalhou para que o Opus Dei fosse erigido como Prelatura pessoal, estrutura segundo as leis da Igreja, bem como para a beatificação de São Josemaria, explicou Coverdale.

A morte do fundador do Opus Dei significou para Álvaro del Portillo o momento “mais dramático” devido à estreita amizade com o santo, com quem viveu e comeu “todos os dias durante 30 anos. Ele tinha um enorme afeto por ele, e foi provavelmente a pessoa que ficou mais afetada pela morte de S. Josemaria”. Apesar da sua dor, Álvaro del Portillo “tomou de imediato as rédeas” e escreveu aos membros do Opus Dei uma carta de 30 a 40 páginas relatando a morte do fundador. “Estou certo que foi algo difícil de fazer: mesmo chorando, sabia que tinha de cuidar dos outros” disse Coverdale.

Desde 1975 até à sua morte em 1994, Mons. del Portillo ficou à frente da Prelatura do Opus Dei.

Álvaro del Portillo era engenheiro e doutorado em Filosofia, Humanidades e Direito Canónico.

Após a sua morte muitas pessoas têm recorrido a ele na oração. O postulador da Causa da Canonização de D. Álvaro, Mons. Flavio Capucci, disse ter recebido mais de 12 mil testemunhos de católicos que afirmam ter recebido favores do futuro beato.

A propósito da celebração da beatificação de Álvaro del Portillo foram programados vários eventos, tais como visitas à Catedral da Almudena de Madrid e a outros lugares relacionados com a vida do Bispo e com os primeiros tempos do Opus Dei.

FONTE

 

Igreja Católica beatificou hoje em Madrid a Álvaro del Portillo que foi engenheiro civil, padre e bispo.

 
A pessoa que a Igreja Católica vai beatificar no próximo sábado em Madrid chama-se Álvaro del Portillo e era engenheiro civil.
Na verdade, também foi outras coisas, e bem relevantes: um dos primeiros padres do Opus Dei; bispo aos 76 anos; o colaborador mais próximo de S. Josemaria; colaborador do Concílio Vaticano II de 1959 a 1965 e da Cúria Romana até ao fim da vida; sucessor do fundador à frente do Opus Dei e por isso, conhecedor da grande diversidade da Igreja espalhada pelo mundo; amigo próximo de S. João Paulo II.
Era pessoa afável e cálida, com quem dá vontade de estar. Via as coisas com bondade, e dava paz. Era também realista, e de ingénuo não tinha nada. É ele que a Igreja vai beatificar.
Mas a Igreja beatifica os homens para se focar em Deus e não nos homens, pois, afinal, é Deus o grande “responsável” pelo que aconteceu na vida do santo.
Então, para quê conhecer a vida concreta dos santos? Para tropeçarmos nalguma dessas vidas e aí nos revermos. E para nunca mais voltarmos à velha falácia: “eu gostava de ser santo, mas não há condições”. Falso!: mentira disfarçada de humildade. Deus cruzou-se, e cruza-se, hoje, na minha vida, na tua vida, na vida de todos.
Isto é: a “santidade” não é coisa de laboratório, tubos de ensaio e luvas esterilizadas. É sempre drama da vida real, romance de graça e desgraça, queda e perdão, cair e levantar, começar e recomeçar.
Por isso, hoje gostava de falar de Álvaro del Portillo e em concreto: era engenheiro civil. Mas antes devo fazer a costumada “declaração de interesses”: também eu sou engenheiro civil. Dito isto, e apesar disto, creio que há razões importantes para o fazer.
Álvaro del Portillo foi engenheiro civil por insistência, até ao máximo, e por carácter. Explico.
Foi engenheiro civil por insistência. Teve de adiar o começo da licenciatura, para ajudar a sustentar a família trabalhando como técnico de obras públicas. Terminou já com 27 anos, pois, além disso, deu-se a terrível Guerra Civil em Espanha, e dedicava-se, apesar de tão jovem, a ajudar S. Josemaria. Em suma, teve de querer muito para ir até ao fim.
Foi engenheiro civil até ao máximo. Cada vez mais ligado ao fundador, aos 30 anos foi ordenado padre e, como seria previsível, deixou a engenharia como actividade profissional. Porém, assim que soube do início dos doutoramentos nas escolas superiores técnicas, candidatou-se com um projecto sobre a modernização de uma ponte metálica, e foi aprovado em 1965. Tinha 51 anos. Só que, desde 1959, colaborava assiduamente em várias comissões do Vaticano II. Ou seja: quis completar a sua formação técnica, sugando os restos de tempo disponível.
Foi engenheiro civil por carácter. Olhava a vida como engenheiro. Desenhava bem. Era prático, organizado, programava com realismo os objectivos e ponderava possibilidades. Recorria instintivamente a metáforas com pontes, equações, coeficientes, planos, mapas e tecnologia. O jornalista Vittorio Messori testemunha-o assim: “Dava mais vontade de nos confessarmos com ele do que fazer-lhe perguntas. Notava-se que tinha sido engenheiro, perito em pontes e estradas. Atrás do hábito de bispo era perceptível um homem do mundo”.
Aqui é preciso parar. Estamos habituados a que quando Deus chama se abandone tudo. E aqui vemos que, porque Deus chama, se abraça tudo. O mundo, o trabalho, a formação profissional, é também vocação. A que é preciso corresponder.
Talvez à grande maioria dos cristãos Deus peça, sim, que convertam o seu coração e mudem o mundo, mas não que mudem de mundo. Para isso são leigos.
Em Álvaro del Portillo ser engenheiro não foi um aspecto transitório, depois superado, e finalmente esquecido. Não. Foi um cromossoma que Deus pôs no seu DNA e que esteve sempre activamente presente no seu genoma de leigo, sacerdote, bispo, prelado, beato.
O Papa Francisco sugeriu que ao pensar em Álvaro del Portillo sentíssemos o apelo de “imitar a vida humilde, feliz, escondida, silenciosa” de que é exemplo, e também o seu “testemunho decidido da perene novidade do Evangelho”. Rezo ao Senhor – e peço orações a quem se queira associar – entregando-Lhe nas mãos o desejo de que aceitemos o desafio do Santo Padre.
Vigário regional do Opus Dei em Portugal