sábado, 31 de dezembro de 2016

D. Eurico Dias Nogueira, então Arcebispo Primaz, assinou o decreto que introduziu a causa de canonização do PADRE ABÍLIO GOMES CORREIA


Uma outra figura que merece relevo — e não pouco — neste meu humilde trabalho, é a do Padre Abílio Gomes Correia, descrito nas redes sociais como «uma pessoa privilegiada pela natureza: homem de saúde de ferro, alto, fisicamente bem constituído, apreciador das coisas boas e belas, capaz de suportar grandes cargas de trabalho e de aguentar, impávido e sereno, as maiores contrariedades. Perante as adversidades nunca cruzava os braços e lutava, teimosamente, até resolver os problemas.»
Impressionante!

Mas quem foi este sacerdote e o que fez?

O Padre Abílio Gomes Correia nasceu em Padim da Graça (Braga) em 9 de Fevereiro de 1882. Teve como pais Manuel José Gomes e Maria Gomes Correia.
Depois de uma meninice comum a todas as crianças e de frequentar a escola da terra natal, em 1900 — tinha então dezoito anos — entrou no seminário de Braga, onde teve como colega António Bento Martins (1881-1963) que mais tarde será Arcebispo Primaz de Braga.
Foi ordenado sacerdote por D. Manuel Baptista da Cunha, a 24 de Setembro de 1904, e continuou — durante três anos — sacerdote na sua terra natal, como auxiliar do pároco. Depois deste período que se poderia chamar “tempo de aprendizagem”, foi nomeado, a 20 de Junho de 1907 pároco de S. Mamede d’Este, na periferia de Braga.
Quando ali chegou ficou espantado com o estado em que se encontrava a paróquia :
«A casa que lhe era destinada estava em ruínas: chovia lá dentro, só tinha um quarto razoável e um espaço bastante amplo que servia de cozinha, sala de jantar e local de atendimento; para a empregada — quando fosse preciso encontrá-la — apenas um cubículo sem ar nem luz onde só cabia a cama; o quarto de banho, nem prático nem cómodo; o soalho esburacado e a janela sem vidros. Não era famoso nem vistoso o palácio que herdou…»

E a igreja?

O edifício religioso não estava em melhor estado:
«Telhas partidas, janelas sem vidros, altares sem toalhas e o próprio Sacrário estava “adornado” por dentro, com teias de aranha. O inventário de bens não lhe levou muito tempo a fazer: não havia valores nem sequer as coisas mais usadas no dia-a-dia duma Paróquia.»
“Teias de aranha no interior do sacrário” !...
Estas palavras fazem lembrar aquelas do Fundador das Maria dos Sacrários, que muitas vezes fala destas “teias de aranha”, tanto no sentido próprio como no figurado.

Acolho

Lê-se ainda, nas redes sociais, onde pesquizei que «as pessoas da freguesia eram poucas e muito pobres; raramente frequentavam os actos religi­osos e a vida moral, de cristã, tinha muito pouco. Quando chegou, com 25 anos de idade, foi recebido com indiferença pela Junta da Paróquia e mais algumas pessoas curiosas.»
O jovem Padre Abílio chegou à sua nova paróquia sozinho e instalou-se, como pôde, na residência paroquial, logo seguido pela chegada de sua mãe e um pouco mais tarde chegou sua irmã — uma irmã de leite, uma moça que a mãe criou juntamente com ele, pois os pais dessa menina tinham morrido quando ainda era bebé. Esta irmã acompanhará o Padre Abílio durante toda a sua vida e lhe sobreviverá durante ainda alguns anos.
O jovem sacerdote que se sentia só, mesmo na companhia dos seus, irá encontrar na sua própria igreja um amigo fiel que ele jamais abandonará, tornando-se mesmo dele o maior arauto que Portugal conheceu: quero falar aqui do Santíssimo Sacramento.
«Com os seus 25 anos de idade — como o explica Dom Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz de Braga —, e sem estruturas materiais nem apoios humanos, voltou-se para o Santíssimo Sacramento, devoção que sempre o atraiu.»
Esta amizade tornou-se tão grande e possessiva que o Padre Abílio passava diante do Sacrário da sua igreja todos os momentos livres que o seu ministério permitia e, como não lhe parecessem suficientes, ele passou a dormir só três horas e a passar o resto da noite na companhia do seu “Amigo” Jesus Sacramentado.
«Em S. Mamede d’Este — escreve ainda Dom Jorge Ortiga —, o seu carisma eucarístico desenvolveu-se a ponto de se iden­tificar espiritualmente com a Eucaristia, que celebrava com fervor e adorava con­tinuamente.»LER...