sexta-feira, 28 de novembro de 2014

BENTO XVI Este livro contém uma mensagem de optimismo, baseada na certeza de ser amados por Deus e protegidos pela sua Providência. Lemos no livro as seguintes palavras, belíssimas: "Vai com segurança absoluta... porque Deus, mesmo antes de nos criar, amou-nos com um amor que nunca diminuiu e que nunca vai desaparecer.


CATEQUESE DE BENTO XVI
AUDIÊNCIA GERAL
de 1
º de Dezembro de 2010


JULIANA DE NORWICH

Ermitã, Mística, Santa
Juliana de Norwich e o amor divino
Queridos irmãos e irmãs:
Ainda me lembro com muita alegria da viagem apostólica ao Reino Unido, feita em Setembro passado. A Inglaterra é uma terra que deu origem a muitas figuras ilustres que, com seu testemunho e seu ensinamento, embelezam a história da Igreja. Uma delas, venerada tanto pela Igreja Católica como pela Comunhão Anglicana, é a mística Juliana de Norwich, de quem eu gostaria de vos falar nesta manhã.
As notícias que temos sobre sua vida — não muitas — são deduzidas principalmente a partir do livro em que esta mulher gentil e piedosa recolheu o conteúdo de suas visões, intitulado "Revelações do Amor Divino". Sabe-se que ela viveu aproximadamente entre 1342 e 1430, anos turbulentos, tanto para a Igreja — dividida pelo cisma após o retorno do Papa de Avinhão a Roma — como para a vida das pessoas, que sofriam as consequências de uma longa guerra entre o reino da Inglaterra e o da França. Deus, porém, mesmo em tempos de tribulação, não deixa de gerar figuras como Juliana de Norwich, para convidar as pessoas à paz, ao amor e à alegria.
Como ela mesma nos narra, em Maio 1373, provavelmente no dia 13 daquele mês, foi atingida de repente por uma doença gravíssima que, em três dias, parecia levá-la à morte. Depois de que o sacerdote, que foi até o seu leito, mostrou-lhe o crucifixo, Juliana não só recuperou a saúde imediatamente, senão que depois recebeu dezasseis revelações que registrou por escrito e comentou em seu livro, as "Revelações do Amor Divino".
E foi o próprio Senhor quem, quinze anos depois destes acontecimentos extraordinários, revelou-lhe o sentido as visões. "Queres saber o que o teu Senhor pretendia e conhecer o significado desta revelação? Vê bem: amor é o que Ele pretendia. Quem te revela isso? O amor. Por que te revela isso? Por amor... Assim, aprenderás que o nosso Senhor significa amor" (Juliana de Norwich, "Revelações do Amor Divino", cap. 86, Milão, 1997, p. 320).
Inspirada pelo amor divino, Juliana tomou uma decisão radical. Como uma antiga anacoreta, escolheu viver dentro de uma cela, colocada perto da igreja dedicada a São Juliano, na cidade de Norwich, que naquela época era um grande centro urbano, perto de Londres. Talvez ela tenha adoptado o nome de Juliana precisamente por causa do santo ao qual estava dedicada a igreja junto à qual ela viveu por muitos anos, até sua morte.
Poderia nos surpreender e até mesmo nos deixar perplexos esta decisão de viver "reclusa", como se dizia em sua época. Mas ela não foi a única em fazer esta escolha:  naqueles séculos, um número considerável de mulheres escolheu esta vida, adoptando regras elaboradas especificamente para elas, como a composta por São Elredo de Rievaulx. As eremitas ou "reclusas", em sua cela, dedicavam-se à oração, à meditação e ao estudo. Assim, amadureciam uma fina sensibilidade humana e religiosa, que as fazia ser veneradas pelo povo. Homens e mulheres de todas as idades e condições sociais, que necessitavam de conselho e consolo, procuravam-nas com devoção. Então, não era uma decisão individualista; precisamente esta proximidade com o Senhor, amadureceu nela a capacidade de ser conselheira para muitos, de ajudar os que viviam em dificuldade nesta vida.
Sabemos que Juliana também recebeu visitas frequentes, como testemunha a autobiografia de uma cristã fervorosa do seu tempo, Margery Kempe, que foi a Norwich, em 1413, para receber sugestões sobre a sua vida espiritual. É por isso que, quando Juliana estava viva, era chamada, como está escrito no túmulo que contém seus restos, "Madre Juliana". Ela tinha se tornado uma mãe para muitos.
Mulheres e homens que se retiram para viver em companhia de Deus, precisamente graças a essa decisão sua, adquirem um grande senso de compaixão diante dos sofrimentos e fraquezas dos outros. Amigas e amigos de Deus têm uma sabedoria que o mundo — do qual se afastam — não possui e, gentilmente, a compartilham com aqueles que batem à sua porta. Penso, portanto, com admiração e reconhecimento, nos mosteiros de clausura femininos e masculinos que, agora mais do que nunca, são oásis de paz e esperança, tesouro precioso para a Igreja inteira, em especial para lembrar a primazia de Deus e a importância da oração constante e intensa no caminho da fé.
Foi precisamente na solidão habitada por Deus que Juliana de Norwich escreveu as "Revelações do Amor Divino", que chegaram até nós em duas versões, uma mais curta, provavelmente a mais antiga, e outra mais longa. Este livro contém uma mensagem de optimismo, baseada na certeza de ser amados por Deus e protegidos pela sua Providência. Lemos no livro as seguintes palavras, belíssimas: "Vai com segurança absoluta... porque Deus, mesmo antes de nos criar, amou-nos com um amor que nunca diminuiu e que nunca vai desaparecer. E, nesse amor, Ele fez todas as suas obras; nesse amor, Ele fez que todas as coisas fossem úteis para nós; nesse amor, nossa vida dura para sempre... Nesse amor, temos nosso princípio e veremos tudo isso em Deus sem fim" ("Revelações do Amor Divino", cap. 86, p. 320).
O tema do amor divino volta com frequência nas visões de Juliana de Norwich, quem, com certa ousadia, não hesitou em compará-lo ao amor materno. Esta é uma das mensagens mais características da sua teologia mística. A ternura, a solicitude e a doçura da bondade de Deus para connosco são tão grandes, que nos remetem ao amor de uma mãe pelos seus próprios filhos. Na verdade, os profetas bíblicos às vezes também usaram a linguagem que lembra a ternura, a intensidade e a totalidade do amor de Deus, que se manifesta na criação e em toda a história da salvação e que tem seu ápice na Encarnação do Filho. Deus, no entanto, sempre supera todo o amor humano, como diz o profeta Isaías: "Acaso uma mulher esquece o seu neném, ou o amor ao filho de suas entranhas? Mesmo que alguma se esqueça, eu de ti jamais me esquecerei!" (Is 49, 15). Juliana de Norwich entendeu a mensagem central para a vida espiritual: Deus é amor e só quando a pessoa se abre a Ele, completamente e com total confiança, e permite que Ele se torne o único guia da existência, tudo se transfigura, encontra-se a verdadeira paz e verdadeira alegria; e a pessoa se torna capaz de difundi esse amor ao seu redor.
Eu gostaria de salientar um outro ponto. O Catecismo da Igreja Católica retoma as palavras de Juliana de Norwich ao expor o ponto de vista da fé católica sobre um tema que continua sendo um desafio para todos os crentes (cf. n. 304-314). Se Deus é sumamente bom e sábio, por que existe o mal e o sofrimento dos inocentes? Também os santos, precisamente os santos, levantaram esta questão. À luz da fé, eles nos dão uma resposta que abre nossos corações à confiança e à esperança: nos misteriosos desígnios da Providência, Deus sabe extrair do mal um bem maior, como escreveu Juliana de Norwich: "Eu aprendi da graça de Deus que devia permanecer firme na fé e, portanto, devia crer firme e plenamente que tudo ia terminar bem..." ("Revelações do Amor Divino", cap. 32, p. 173).
Sim, queridos irmãos e irmãs, as promessas de Deus são sempre maiores do que as nossas esperanças. Se entregarmos a Deus, ao seu imenso amor, os desejos mais puros e mais profundos do nosso coração, nunca seremos decepcionados. "E tudo terminará bem", "tudo será para o bem": esta é a mensagem final que Juliana de Norwich transmite e que também eu vos proponho hoje. Obrigado.

Revelações do Amor Divino

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“O nosso bom Senhor disse-me certa vez: «Todas as coisas vão acabar em bem»; e doutra vez  disse-me: «Verás que tudo acabará em bem.» Com estas palavras, a minha alma percebeu […]  que Ele quer que saibamos que Ele presta atenção, não somente às coisas nobres e grandes,  mas também às que são humildes, pequenas, pouco elevadas, simples. É isto que Ele quer dizer  quando declara: «Tudo, seja o que for, terminará em bem.»
 Ele quer fazer-nos entender que nem a menor coisa será esquecida. E quer que  compreendamos que muitas ações são tão más a nossos olhos e nos causam tanta dor, que  parece impossível que possam ter um fim bom; e assim, afligimo-nos e lamentamo-nos, de tal  modo que deixamos de ser capazes de encontrar a paz na contemplação bem-aventurada de  Deus, como devíamos. Porque aqui em baixo raciocinamos de forma tão cega, tão baixa, tão  simplista, que nos é impossível conhecer a sabedoria elevada e maravilhosa, o poder e a  bondade da Santíssima Trindade. […] É como se Deus dissesse: «Tende o cuidado de acreditar e  confiar em Mim, e no final vereis tudo na verdade, e portanto na plenitude da alegria.» […]
Há uma obra que a Santíssima Trindade realizará no último dia, segundo vejo. Quando esta obra vai ser feita e como será feita, nenhuma criatura abaixo de Cristo o sabe e ninguém o saberá até ao seu cumprimento. […] Se Deus quer que saibamos que Ele fará esta obra, é para que estejamos mais à vontade, mais pacificados no amor, que deixemos de fixar o olhar nas tempestades que nos impedem de verdadeiramente nos alegrarmos nele. Esta é a grande obra ordenada por Nosso Senhor desde toda a eternidade, um tesouro profundamente escondido no seu seio bendito, e só conhecida por Ele. Por esta obra, Ele vai garantir que tudo acabe em bem, porque tal como a Santíssima Trindade criou todas as coisas do nada, assim vai tornar boas todas as coisas que o não são.” Revelações do Amor Divino (capítulo 32) de Santa Juliana de Norwich, notável mística da Idade Média (1342-1416).

JULIANA DE NORWICH (1342-1421)


Juliana nasceu em 1342 e faleceu em Norwich, Inglaterra em 1421. Beneditina ela foi uma reclusa em Norwich, vivendo fora das paredes só quando ia a Igreja de São Julião e experimentou 16 revelações.

O seu livro “Revelations of Divine Love” (Revelações do Amor Divino) que é um excepcional trabalho sobree o amor de Deus, na Incarnação, Redenção e na Divina Consolação, fez dela uma das mais importantes escritoras da Inglaterra. Ela escreveu sobre o pecado, penitencia e outros aspectos da vida espiritual e seus trabalhos brilhantes atraíram estudiosos de toda a Europa. Ela é chamada Santa mas na verdade não foi formalmente canonizada.

Entre as místicas inglesas nenhuma é mais notável que Lady Juliana que viveu perto de Norwich, em uma ermida de três quartos no quintal da igreja de Conisford. Absolutamente nada é conhecido da sua vida antes de se tornar uma Beneditina reclusa.De fato nem sabemos se seu nome era esse mesmo ou a ela foi dado o nome da cela em que ela vivia.

Em 1393 Lady Juliana era uma reclusa e tinha dois serventes que a atendiam quando atingiu a idade avançada. Ela recebeu 16 revelações e passou 20 anos meditando sobre elas. As revelações foram seguidas de estado de êxtase, da Paixão de Cristo e da Trindade.Ela viu o sangue vermelho fluindo sob a Coroa de Espinhos, viu a Virgem como uma jovem e simples senhora. Viu Jesus mostrando a ela uma castanha na palma de sua mão. Ela pensou: “O que será isso?” e Ele respondeu: “Isto é tudo que é criado. Deus deu forma, Deus deu vida, Deus mantém ela assim.”

Assim ela aprendeu a bondade de Deus “para o qual a nossa mais elevada das preces deve ser dirigida”. “O qual desce para atender as nossas menores necessidades”. E ainda em relação a cruz ela viu a misericórdia Divina caindo como uma fina chuva de graças durante a Sua Paixão. Ela viu o Senhor morrendo e os Seus terríveis tormentos e a agonia de Seus sofrimentos e escreveu: “Assim eu O vi e eu O amava”.

Para Juliana de Norwich, a maternidade, representa a plenitude de Deus em criar, redimir e chamar o mundo à liberdade. Igualmente, também Jesus Cristo “é a nossa verdadeira Mãe”, que nos nutre e não permite que morramos, porque o amor da mãe é o amor total que não admite derrota. Na época de sua morte ela tinha uma vastíssima reputação e atraía visitantes de toda a Inglaterra para a sua cela.

PENSAMENTOS DE JULIANA DE NORWICH

"A nossa verdadeira Mãe, Jesus, ele somente nos gera para a alegria e a vida eterna […] Por isso é para ele como uma obrigação nos nutrir, porque o precioso amor da maternidadeo fez devedor para conosco. Uma mãe pode dar à criança seu leite para mamar, mas a nossa caríssima Mãe Jesus é capaz de nos nutrir de si mesmo […] A palavra “mãe”, bela e cheia de amor, é em si tão doce e gentil que não pode ser propriamente dita de ninguém e a ninguém a não ser dele e a ele, que é a verdadeira Mãe da vida e de tudo. São propriedades da maternidade o amor natural, a sabedoria e o conhecimento, e isto é Deus"

“Uma mãe pode deixar que a criança caia de vez em quando e sofra diversas dificuldades, e isso para o seu bem, mas não pode nunca permitir, pelo amor que tem por ela, que a criança seja vítima de qualquer perigo. E também se a nossa mãe terrena pode deixar morrer a sua criança, a nossa Mãe celeste, Jesus, não pode nunca permitir que os seus filhos pereçam, porque ele é onipotente, toda sabedoria e amor".

"Eu sou o fundamento da tua súplica; primeiro é minha vontade que recebas o que suplicas; depois, faço-te desejá-lo; e então faço-te suplicá-lo e tu o suplicas. Como pois não haverias de receber o que suplicas?"

"Aprendi, pela graça de Deus, que é necessário manter-me firmemente na fé, e acreditar com não menos firmeza que todas as coisas são boas... E verás que todas as coisas são boas"

"Nós somos tão preciosamente amados de Deus que não podemos sequer compreender isto. Nenhum ser criado pode saber o quanto Deus doce e ternamente o ama"

"Fazer vencer o bem sobre o mal é uma característica de Deus".

"Por conseguinte, Jesus Cristo, que, opondo-se, venceu o mal com o bem, é a nossa verdadeira Mãe: d’Ele nós recebemos o nosso 'Ser'- e aqui tem início a Sua Maternidade - e com esse recebemos também a doce Proteção e Custódia do Amor que não cessará de nos rodear".

"Como é verdade que Deus é nosso Pai, assim também é verdade que Deus é nossa Mãe. E esta verdade Ele me mostrou em cada coisa, mas especialmente naquelas doces palavras nas quais Ele diz: 'Eu o sou'”.

"O que é o mesmo que dizer, eu sou a Potência e a Bondade do Pai; eu sou a sabedoria da Mãe; eu sou a Luz e a Graça que é o bem-aventurado amor; eu sou a Trindade; eu sou a Unidade; eu sou a Bondade soberana de todas as coisas; eu sou Aquele que te faz amar, eu sou Aquele que te faz desejar, eu sou o acontentamento infinito de todos os verdadeiros desejos".

"O nosso Pai altíssimo, Deus Onipotente, que é o Ser, conhece-nos e ama-nos desde sempre: de tal forma que, pela sua maravilhosa e profunda caridade e pelo unânime consenso de toda a bem-aventurada Trindade, Ele quis que a Segunda Pessoa se tornasse nossa Mãe, nosso Irmão, nosso Salvador".

"É, portanto, lógico que, sendo Deus nosso Pai, seja também nossa Mãe. O nosso Pai quer, a nossa Mãe realiza e o nosso bom Senhor, o Espírito Santo, confirma; portanto, convém-nos amar o nosso Deus, no qual temos o Ser, agradecê-lo com reverência e louvá-lo por nos ter criado, e orar ardentemente à nossa Mãe para obter misericórdia e piedade, e orar ao nosso Senhor, o Espírito Santo, para obter a sua ajuda e graça".

"E vi com toda a certeza que Deus nos amou antes de nos ter criado, e que o Seu amor nunca diminuiu, e nunca diminuirá. Neste amor Ele fez todas as Suas obras e neste amor Ele faz concorrer todas as coisas em nosso benefício; e neste amor a nossa vida é eterna".

"Na criação nós tivemos um início, mas o amor com o qual Ele nos Criou existia n’Ele desde sempre: e neste amor nós temos o nosso início. E veremos tudo isto em Deus, eternamente."

"Então vi que, no meu entender, era uma grande união entre Cristo e nós; pois quando Ele padecia, padecíamos também. E todas as criaturas que podiam sofrer sofriam com Ele".