quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Dos Sermões de São Bernardino de Sena sobre o Santíssimo Nome de Jesus

São Bernardino e o Santíssimo Nome de Jesus

São Bernardino de Sena, como todos os grandes pregadores, não estavam a ensinar algo novo, mas lembrar aos seus ouvintes o que eles já deveriam ter plena consciência. Ao pregar, ele costumava segurar uma pequena prancheta de madeira, na qual o monograma IHS que ele privilegiava, era circundado por doze raios de luz, e ele encorajava “cada joelho a se dobrar” perante o monograma. A devoção ao Nome Santo espalhou-se pela Europa com rapidez surpreendente. Em 1432, o Papa Eugénio IV emitiu uma Bula promovendo a devoção ao símbolo IHS escrito.

A devoção popular levou à composição de um Ofício do Nome Santo, e ao estabelecimento de um dia comemorativo. Em Camaiore di Luca, na Itália, começou-se a celebrar a festa, depois de aprovada para a Ordem dos Franciscanos (1530) e sob o pontificado de Inocêncio XIII (1721), estendida a toda a Igreja.

O dia da festa variou através dos séculos, mas muitos o lembram como o domingo depois do Natal, até 1969, quando foi suprimido. O Santo Padre João Paulo II, na mais recente edição do Missal Romano, restabeleceu a Festa do Santíssimo Nome de Jesus no dia 3 de Janeiro.

Dos Sermões de São Bernardino de Sena sobre o Santíssimo Nome de Jesus

(Sec. XV)

O nome de Jesus, luz dos pregadores

(Sermão 49, sobre o glorioso Nome de Jesus, cap. 2: Opera omnia 4, 505-506)

O nome de Jesus é a luz dos pregadores, porque ilumina com o seu esplendor os que anunciam e os que ouvem a sua palavra. Qual é a razão por que se difundiu a luz da fé por todo o mundo tão rápida e ardentemente, senão porque foi pregado este nome? Não foi também pela luz e suavidade do nome de Jesus que Deus nos chamou à sua luz admirável?(1Pd 2,9). Com razão diz o Apóstolo aos que foram iluminados e nesta luz vêem a luz: Outrora fostes trevas, mas agora sois luz no Senhor: vivei como filhos da luz (Ef 5,8).

Portanto, necessário, por conseguinte, anunciar este nome, para que a sua luz não fique oculta mas resplandeça. Mas não deve ser pregado com o coração impuro ou com a boca profanada; tem de ser guardado e distribuído por meio de uma taça preciosa.

Por isso, diz o Senhor, referindo-se ao Apóstolo: Este homem é para mim a taça escolhida para levar o meu nome perante os gentios, os reis e os filhos de Israel (cf. At 9,15). Uma taça escolhida, diz o Senhor, onde se expõe uma inestimável bebida de agradável sabor, para que o brilho e esplendor das taças preciosas convide a beber: para levar – acrescenta – o meu nome.

Com efeito, assim como para limpar os campos se queimam com o fogo as silvas e os espinheiros secos e inúteis, e assim como aos primeiros raios do sol nascente, à medida que se vão dissipando as trevas, se escondem os ladrões, os meliantes nocturnos e os salteadores, assim também quando a boca de Paulo pregava aos povos – semelhante ao ribombar de forte trovão ou ao irromper de um incêndio avassalador ou ao esplendoroso nascer do sol – extinguia-se a infidelidade, desaparecia a falsidade e resplandecia a verdade, à semelhança da cera que se derrete ao calor de um fogo ardente.

Ele levava a toda a parte o nome de Jesus com suas palavras, com suas cartas, com seus milagres e com seu exemplo. Bendizia sempre o nome de Jesus e cantava-lhe hinos de acção de graças (Eclo 51,15; Ef 5,19-20).

O Apóstolo apresentava este nome como uma luz perante os reis, os gentios e os filhos de Israel e iluminava as nações e proclamava por toda a parte: A noite vai adiantada e aproxima-se o dia. Abandonemos as obras das trevas e revistamo-nos com as armas da luz. Andemos dignamente como convém em pleno dia (Rm 13,12-13). E mostrava a todos a lâmpada que arde e ilumina sobre o candelabro, anunciando em todo o lugar a Jesus crucificado (1Cor 2,2).

Por isso, a Igreja, esposa de Cristo, sempre fortalecida pelo seu testemunho, rejubila com o Profeta, dizendo: Desde a juventude, ó Deus, Vós me ensinastes, e até hoje e sempre anuncio as vossas maravilhas (Sl 70,17). A isto exorta também o Profeta, dizendo: Cantai ao Senhor e bendizei o seu nome, anunciai dia após dia a sua salvação (Sl 95,2), isto é, Jesus, o Salvador.

Bem mais antiga do que a devoção franciscana ao Nome de Jesus é a prática da “Invocação” contínua deste Nome. Ela remonta aos tempos da antiguidade cristã e especificamente ao hesicasmo.


O Nome de Jesus, solida base da fé, suscita filhos de Deus

(Da Obra De Evangelio Aeterno, de São Bernardino de Sena. Sermo 49, art. 1: Opera Omnia, IV, p.495s)

“Nome santíssimo, tão desejado pelos antigos patriarcas, esperado com tamanha ansiedade, repetidas vezes protelado, invocado com muitos suspiros, suplicado entre copiosas lágrimas, concebido com misericórdia no tempo da graça. Omita-se qualquer denominação de poder, não se fale de reivindicação, retenha-se o nome de justiça. Dá-nos o nome de misericórdia, soe o nome de Jesus aos meus ouvidos, e então, sim, tua voz será suave, belo o teu rosto.

O nome de Jesus, sólida base de fé, suscita filhos de Deus. A fé da religião católica consiste no conhecimento da salvação eterna. Quem não tiver tal fé ou abondoná-la, caminha às escuras nas trevas da noite, precipita-se de olhos fechados no meio dos perigos e, por mais que brilhe a grandeza de seu entendimento, acompanha um guia cego porque segue o próprio intelecto, à busca de compreender os segredos celestes. Ou tenta construir casa sem alicerces, ou ainda deixa a porta e quer entrar pelo teto. A base, pois, é Jesus, luz e porta, o qual, a fim de mostrar o caminho aos errantes, manifestou a todos a luz da fe, que torna possível procurar o Deus desconhecido, crer no que foi procurado, encontrar quele em que se acreditou Este fundamento sustenta a Igreja, edificada sobre o nome de Jesus. O nome de Jesus é esplendor dos pregadores, visto que por luminoso fulgou anuncia e faz com que seja ouvida a sua palavra. De onde vem a todo o mundo a luz da fé, tão grande, súbita e ardente, senão do anúncio de Jesus? Acaso Deus não chamou à sua luz admirável por intermédieo da claridade e do sabor deste nome? Assim iluminados, e vendo nesta luz a luz, diga com razão o Apóstolo: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; comportai-vos como verdadeiras luzes” (Ef 5,8).

Ó nome glorioso, nome grato, nome amante e virtuoso! Por ti perdoam-se os crimes, por ti são superados os adversários, por ti os enfermos são curados, por ti os que sofrem adversidades se fortificam e se alegram! Honra dos fiéis, doutor dos pregadores, robusteces os trabalham, sustentas os que fraquejam. Em teu ígneo fervor e em teu calor inflam-se os desejos, impetram-se os sufrágios pedidos, inibriam-se as almas que contemplam e gloricam-se todos que triunfam na celeste glória. Por este santíssimo nome, dulcissimo Jesus, faze-nos reinar em sua companhia”.

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Bem mais antiga do que a devoção franciscana ao Nome de Jesus é a prática da “Invocação” contínua deste Nome. Ela remonta aos tempos da antiguidade cristã e especificamente ao hesicasmo.

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