sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Iota Unum – A crise do sacerdócio no pós-Concílio: a defecção dos padres com a chancela das autoridades.

A CRISE DO SACERDÓCIO

A DEFECÇÃO DOS SACERDOTES
A recusa de Paulo a se entristecer com as tristes realidades da Igreja pouco pôde contra o fato da defecção dos sacerdotes, estatisticamente comprovada [1] e evidente por todas as partes. Paulo VI abordou esse tema tão espinhoso e doloroso em dois discursos.
Na alocução da Quinta-Feira Santa de 1971, recordando o drama pascal do homem-Deus (abandonado pelos discípulos e traído pelo amigo), o Papa passou a falar de Judas até a apostasia dos sacerdotes.
Antecipou que “é necessário distinguir caso por caso, é necessário compreender, compadecer, perdoar, atender e, é sempre necessário amar”. Mas depois chamou os traidores ou os apóstatas de “infelizes ou desertores”, falou dos “vis motivos terrenos” que os guiam, e deplorou sua “mediocridade moral, que pretende achar normal e lógica a transgressão de uma promessa longamente meditada”. (OR, 10 de abril de 1971).
O coração do Papa está entristecido pela evidência dos fatos, e não podendo tirar a culpabilidade da apostasia, atenua-a um pouco, chamando-os, por exemplo, de “infelizes ou desertores”. Como não ver que a deserção não é uma alternativa à infelicidade, e que os lapsi são infelizes precisamente por terem desertado?
Falando ao clero romano, em fevereiro de 1978, sobre as defecções sacerdotais, o Papa disse: “As estatísticas nos constrangem; a casuística nos desconcerta; as motivações, sim, impõem-nos respeito e nos movem à compaixão, mas nos causam uma dor imensa; a sorte dos débeis que encontraram forças para desertar de seu compromisso nos confunde”. E o Papa fala de “mania de secularizaçãoque “profana a figura tradicional do sacerdote” e, por um processo de certa forma irracional, “extirpou do coração de alguns a sagrada reverência devida a sua própria pessoa” (Osservatore Romano, 11 de fevereiro de 1978).
A inquietude do Papa deriva, por um lado, da amplitude estatística do fenômeno, e, por outro, da profunda corrupção que este supõe. Tampouco se trata principalmente da corrupção dos costumes sacerdotais enquanto violação do celibato (pois se corrompeu também em outras épocas, ainda que sem cair em apostasia), mas sim de outra corrupção que consiste no rechaço das essências e no intento posterior de converter o sacerdote em algo distinto de si mesmo (isto é, um não-sacerdote), atribuindo ao novo estado, no entanto, a identidade do primeiro. Evidentemente, alterando a essência, essa identidade se converte em algo puramente verbal.LER...