domingo, 13 de dezembro de 2009

Reflexão de Dietrich von Hildebrand, da obra: Cavalo de Tróia dentro da Igreja

"Assistimos, hoje, a uma deformação do movimento litúrgico quando muitos tentam substituir os sublimes textos latinos da Liturgia por traduções nativas, com gíria. Che­gam mesmo a mudar, arbitràriamente, a Liturgia no intuito de “adaptá-la aos nossos tempos”. O Canto Gregoriano vai dando lugar, na melhor hipótese, à música medíocre, quando não ao jazz ou ao rock and roll. Essas grotescas substituições empanam o espírito de Cristo incomparàvelmente mais do que o fizeram certos tipos antigos e sentimentais de devo­ção. Esses eram inadequados. Aquêles, além de inadequa­dos, são antitéticos à sagrada atmosfera da Liturgia. É mais do que uma deformação; isso lança o homem em uma atmosfera tipicamente mundana. Apela no homem para algo que o torna surdo à mensagem de Cristo.

Mesmo quando se substitui a beleza sagrada, já não pela vulgaridade profana, mas por abstração neutra, incor­re-se em sérias conseqüências para as vidas dos fiéis, pois, como indicamos, a Liturgia católica se dirige à personalidade total do fiel. O fiel não é atraído ao mundo de Cristo apenas por sua crença ou por símbolos estritos. São levados a um mundo mais alto pela beleza da igreja, por seu ambiente sa­grado, pelo esplendor do altar, pelo ritmo dos textos litúr­gicos, pela sublimidade do Canto Gregoriano ou por músicas verdadeiramente sacras, tais como a Missa de Mozart ou de Bach. Até mesmo o perfume do incenso tem função sig­nificativa, nesse sentido. O emprêgo de todos os canais ca­pazes de introduzir-nos no Santuário é profundamente ree-­lista e profundamente católico. É autênticamente existen­cial e realiza função notável em ajudar-nos a elevar nossos corações.

Se é verdade que considerações de cunho pastoral po­derão recomendar como desejável o uso do vernáculo, o Latim da Missa - na missa silenciosa, dialogada e, espe­cialmente, cantada com o Gregoriano - jamais deveria se abandonado. Não se trata de guardar o Latim de Missa por certo tempo até que os fiéis se habituem à missa em ver­náculo. Como a Constituição da Sagrada Liturgia claramente determina, é permitido o uso do vernáculo, mas a Missa em Latim e o Canto Gregoriano conservam tôda sua importân­cia. Foi essa a intenção do motu proprio, de São Pio X, que afirmou ser o Latim da missa, como o Canto Gregoriano, responsável também pela formação da piedade dos fiéis, através da atmosfera sagrada e única gerada por sua di­ção. Assim os anseios de muitos católicos e do movimento Una Voce não se dirigem contra o uso do vernáculo, mas contra a eliminação da Missa em Latim e do Canto Grego­riano. Eles apenas estão pedindo que se cumpra, realmente, a Constituição da Sagrada Liturgia.

Contudo, certos católicos de hoje manifestam o desejo de mudar a forma exterior da Liturgia, adaptando-a ao es­tilo de vida de nossa época dessacralizada. Esse desejo denota cegueira com relação à natureza da Liturgia, bem como ausência de respeito reverencial e gratidão pelos dons sublimes de dois mil anos de vida cristã. Acreditar que as formas tradicionais podem ceder o lugar a algo melhor é dar provas de uma ridícula auto-suficiência. E êsse con­ceito é particularmente incongruente nos que acusam a Igreja de “triunfalismo”. De um lado, eles consideram falta de humildade da Igreja proclamar que Ela só é deten­tora da plena revelação divina (em vez de perceber que essa proclamação se fundamenta da natureza da Igreja e decorre de sua missão divina) . De outro lado, demonstram ridículo orgulho quando simplesmente assumem que nossa época mo­derna é superior às anteriores.

Podem-se ouvir, hoje, vozes de protesto declarando, por exemplo, que o texto do Glória e de outras partes da Missa estão repletos de expressões cansativas de louvor e glorifi­cação a Deus, quando deveriam fazer mais referências a nossas vidas. É um contra-senso que revela como tinha ra­zão Lichtemberg ao dizer que, se fôsse dado a um macaco ler as epístolas de São Paulo, êle veria sua própria imagem refletida nelas. Admiram-se os nossos “teólogos” modernos não apresentarem, dentro em breve, uma nova versão do “Pai Nosso”, como o fêz Hitler. O “Pai Nosso” claramente enfatiza o primado absoluto de Deus, tão distante da men­talidade típica moderna. Um único pedido diz respeito ao bem-estar terrestre : “o pão nosso de cada dia” … O res­tante diz respeito ao próprio Deus, a seu Reino, a nosso bem-estar eterno".

Fonte: http://salterrae.org/