sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Extractos da Homilia do Papa Bento XVI em Paris a 13 de Setembro de 2008

Como chegar a Deus? Como chegar a encontrar ou reencontrar Aquele que o homem busca no mais profundo de si mesmo, embora O esqueça tão frequentemente? Para O descobrirmos, São Paulo pede-nos que façamos uso não apenas da nossa razão, mas sobretudo da nossa fé. Pois bem, o que é que a fé nos diz? O pão que partimos é comunhão no Corpo de Cristo; o cálice de bênção que abençoamos é comunhão no Sangue de Cristo. Uma revelação extraordinária, que nos vem de Cristo e nos é transmitida pelos Apóstolos e por toda a Igreja, há quase dois mil anos: Cristo instituiu o sacramento da Eucaristia na noite de Quinta-Feira Santa. Ele quis que o seu sacrifício estivesse de novo presente, de maneira não sangrenta, todas as vezes que um sacerdote repete as palavras da consagração sobre o pão e o vinho. Milhões de vezes desde há vinte séculos, tanto na mais humilde das capelas como na mais grandiosa das basílicas ou das catedrais, o Senhor ressuscitado entregou-Se ao seu povo, tornando-Se assim, segundo a fórmula de Santo Agostinho, «mais íntimo a nós do que nós mesmos» (cf. Confissões III, 6.11).
Irmãos e irmãs, rodeemos da maior veneração o sacramento do Corpo e do Sangue do Senhor, o Santíssimo Sacramento da presença real do Senhor na sua Igreja e na humanidade inteira. Nada descuremos para Lhe manifestar o nosso respeito e o nosso amor. Ofereçamos-Lhe os maiores sinais de honra! Através das nossas palavras, dos nossos silêncios e dos nossos gestos, nunca permitamos que se atenue, em nós e ao nosso redor, a fé em Cristo ressuscitado, presente na Eucaristia. Como diz de modo magnífico o próprio São João Crisóstomo: «Passemos em revista as graças inefáveis de Deus e todos os bens que nos faz desfrutar, quando Lhe oferecemos este cálice, quando comungamos, dando-Lhe graças por ter libertado o género humano do erro, por ter aproximado de Si aqueles que se tinham afastado, por ter feito de desesperados e ateus deste mundo um povo de irmãos, de co-herdeiros do Filho de Deus» (Homilia 24 sobre a Primeira Carta aos Coríntios, 1). Com efeito – continua ele – «o que está no cálice é precisamente aquilo que escorreu do seu lado, e é nisto que participamos» (Ibidem). Não há somente participação e partilha, há também «união» – diz ele.
A Missa é o sacrifício de acção de graças por excelência, o que nos permite unir a nossa acção de graças à do Salvador, o Filho eterno do Pai. Em si mesma, a Missa convida-nos também a fugir dos ídolos, porque – como São Paulo insiste – «vós não podeis beber do cálice do Senhor e do cálice dos espíritos malignos» (1 Cor 10, 21). A Missa convida-nos a discernir aquilo que, em nós, obedece ao Espírito de Deus e o que, em nós, permanece à escuta do espírito do mal. Na Missa, desejamos pertencer unicamente a Cristo, retomando com gratidão – com «acção de graças» – o brado do Salmista: «Como retribuirei ao Senhor todo o bem que Ele me fez?» (Sl 116, 12). Sim, como agradecer ao Senhor pela vida que Ele me deu? A resposta à pergunta do Salmista encontra-se no próprio Salmo, porque misericordiosamente a própria Palavra de Deus responde às questões que formula. Como dar graças ao Senhor por todo o bem que Ele nos faz, senão atendo-nos às suas próprias palavras: «Elevarei o cálice da salvação, invocando o nome do Senhor» (Sl 116, 13)?
Porventura elevar o cálice da salvação e invocar o nome do Senhor não é precisamente o melhor meio para «fugir dos ídolos», como nos pede São Paulo? Cada vez que uma Missa é celebrada, cada vez que Cristo Se torna sacramentalmente presente na sua Igreja, realiza-se a obra da nossa salvação. Por isso, celebrar a Eucaristia significa reconhecer que só Deus é capaz de nos dar a felicidade plena, de nos ensinar os verdadeiros valores, os valores eternos que jamais conhecerão ocaso. Deus está presente no altar, mas encontra-Se também presente no altar do nosso coração quando, comungando, O recebemos no sacramento eucarístico. Só Ele nos ensina a fugir dos ídolos, miragens do pensamento.
Pois bem, queridos irmãos e irmãs, quem pode elevar o cálice da salvação e invocar o nome do Senhor por conta de todo o povo de Deus, a não ser o sacerdote ordenado pelo Bispo para tal finalidade?